“Pesquisar o tratamento precoce é um direito do cidadão e uma questão de planejamento contra esse vírus que nos encurralou”
Vereador Quinho comenta a importância de estudar alternativas contra a COVID-19
Há cinco meses, o coronavírus não estava em noticiários, nem em laudos médicos. Não haviam estudos efetivos sobre o tema. Hoje, vivemos uma situação atípica, há novas regras de convívio social e debates acalorados na comunidade acadêmica e entre profissionais da saúde. Mas também há esperança de tratamento, ainda na primeira fase da doença provocada pelo vírus.
O município enxergou essa possibilidade e avaliará a eficácia do uso de medicamentos desde os primeiros sintomas da COVID-19. Uma pesquisa será realizada em parceria entre a Associação Médica de Canoas (Somédica), a Prefeitura Municipal e o Conselho do Hospital Nossa Senhora das Graças, onde um grupo de pacientes participará da iniciativa.
A busca urgente por alternativas tem inquietado a Câmara de Vereadores do município. Responsável por provocar a ampliação do debate na casa legislativa, o vereador republicano Marcus Vinicius, o Quinho, afirmou em entrevista que os resultados constatados em diversas cidades a partir do tratamento precoce não podem ser ignorados. Ele foi autor de dois requerimentos propondo que médicos pudessem apresentar esclarecimentos públicos sobre os estudos.
Confira a entrevista com o vereador:
ANTES MESMO DE A PREFEITURA ANUNCIAR OS ESTUDOS, HAVIA UM MOVIMENTO DENTRO DA CÂMARA. COMO TEM SIDO ESSA DISCUSSÃO NO LEGISLATIVO?
Consciente e bem aceita pela maioria. Não escaparemos da falta de leitos, já vivemos o drama da falta de medicamentos de nível hospitalar, a vulnerabilidade econômica está crescendo. Apenas aguardar que o vírus passe não é suficiente. Então, em um primeiro momento, tentamos aprovar um requerimento para ouvirmos o Dr. Luciano Zuffo, presidente da Somédica e um dos coordenadores do estudo no Estado. Houve resistência, foi negado, mas resolvi insistir e, no dia 2 de julho, conseguimos a aprovação da maioria dos colegas. Uma amostra da responsabilidade dos vereadores.
APESAR DE HAVER DIVERGÊNCIAS SOBRE O ESTUDO, HÁ CONVICÇÃO DA SUA PARTE DE QUE CABERIA À CÂMARA ENTRAR NO ASSUNTO. POR QUÊ?
Por que não uma oportunidade de avançar nesse combate ao coronavírus?
Nossa rede hospitalar está carregada, não há equipamentos e equipes profissionais suficientes. E não entenda como uma crítica. Afinal, que sistema de saúde de países desenvolvidos foi capaz de dar suporte ao número crescente de pacientes?
O que defendi e defendo, em nome das pessoas que represento nesta cidade, é ao menos considerar com respeito os relatos de profissionais renomados, preocupados em salvar seus pacientes. E ouvir diretamente dos especialistas. As pessoas têm o direito de ter conhecimento e saber de que forma o vírus tem sido combatido com sucesso, e quando é ou não indicado. Além disso, a decisão será tomada entre médicos e pacientes.
AFINAL, O QUE REPRESENTA ESSE TRATAMENTO PRECOCE PARA A CIDADE?
Vida, dignidade, esperança. Representa uma atitude a mais. Estamos há meses vivendo a angústia dessa pandemia. O vírus é rápido e não espera vacinas, nem exames. Nossa busca é por alternativas. E há evidências clínicas, reunidas por milhares de médicos, que comprovam o êxito do tratamento precoce e contribuem para o debate. Jamais vou preconizar que se adote ou não se adote. Quero que se analise, que se estude. E que se informe às pessoas. As medidas de distanciamento e os cuidados de prevenção são fundamentais. Seguirão sendo. Mas não bastam. Nossas UTIs estão quase lotadas, estamos vendo empresas fechando e demitindo seus funcionários. Vamos ousar. Diferentemente do que acontece na terceira fase, quando os estudos mostram que os medicamentos já não são tão eficazes, na fase inicial dos sintomas há resultados incríveis.
VOCÊ FALA BASTANTE EM RESULTADOS. QUE EXEMPLOS DARIA?
A minha responsabilidade é grande. Então procuro estudar muito, ouvir e contrapor visões. Não quero aqui pontuar casos, porque são muitos. Quero que os nossos especialistas estudem essas experiências e apliquem à nossa realidade.
Mas há resultados exitosos relatados em diversas regiões do Brasil e do mundo.
Um exemplo é Belém, no Pará. Já havia colapso, hospitais com portas fechadas devido à lotação, e foi se observando uma queda nos agravamentos dos novos casos. Diversas cidades gaúchas já adotam o sistema, como Gramado.
MAS, COMO VEREADOR DE CANOAS, VOCÊ ACREDITA QUE O CANOENSE TEM INTERESSE NO TRATAMENTO PRECOCE?
Muito! Depois de termos o primeiro requerimento negado, no dia 30 de junho, fiz uma enquete em uma rede social. A repercussão foi inacreditável, inclusive junto ao Executivo, que enxergou essa mobilização da sociedade. As pessoas querem entender, querem saber que opções existem. Querem ouvir dos profissionais, das nossas autoridades.
Tanto é que, na sessão seguinte da Câmara, o requerimento foi aprovado e, no dia 7 de julho, realizamos o Grande Expediente com o conceituado Dr. Luiz Aneron, que também integra a pesquisa no Estado, e com o Dr. Roberto Tonietto, epidemiologista do Hospital Universitário.
CONSIDERA UMA CONQUISTA O ANÚNCIO DE QUE CANOAS PESQUISARÁ O TRATAMENTO DESDE A FASE INICIAL DA DOENÇA?
Com certeza! Fiquei feliz demais. Tenho trabalhado muito por essa e alternativas. Não podemos ficar na zona de conforto. A Casa Legislativa é uma caixa de ressonância da população. Precisamos aprofundar o conhecimento que vem sendo construído pelo país e saber como pode contribuir com a nossa cidade, que resultados podemos ter aqui. O distanciamento continua sendo fundamental, mas nem todos podem ficar em casa. Quem pode, por favor, fique. Há trabalhadores que necessitam sair. E correm o risco de ser contagiados e não encontrarem um leito de UTI disponível. Ou, se for internado, não haver medicamento para sua gravidade. Por isso, tenho convicção de que pesquisar o tratamento precoce é um direito do cidadão e uma questão de planejamento contra esse vírus que nos encurralou, que nos tirou tantas coisas, inclusive vidas. Agora, temos mais uma esperança no combate à pandemia. É uma vitória da vida, da dignidade! E sempre com a orientação e a decisão médica.