Pai, perdoai. Eles não sabem o que fazem
Por | Angela Berton | JORNALISTA
A sensação de fracasso da Humanidade é grande ao constatar que existem pessoas defendendo a continuidade da gestação da menina de dez anos, estuprada durante anos pelo tio, em São Mateus, no Espírito Santo.
A menina não quer prosseguir com a gravidez e teve sua vontade respeitada pela Justiça. A Vara da Infância e da Juventude autorizou a interrupção, seja pela realização do aborto ou pela antecipação do parto – pela lei, a decisão seria do responsável legal por ela ser menor de idade. Por aqui, isso é permitido em três situações – estupro, risco de vida para a mãe e anencefalia. Ela, portanto, preenche dois dos três requisitos. Mesmo assim, políticos e religiosos pressionaram para que ela leve a gestação até as últimas consequências. Seu estado de saúde inspira cuidados. Sem falar nos profissionais de saúde que negaram em realizar o procedimento.
Particularmente duvido , em sã consciência, que alguma mulher aborte por gosto. Interromper uma gravidez é um ato traumático para o corpo e a cabeça da mulher e é realizado quando não há outra saída. Poderia até tratar da questão do justo direito da mulher à autonomia sobre o próprio corpo – só para ouvir de fundamentalistas frases superficiais como “e o direito do embrião, como fica?” ou “e o feto teve escolha?” Mas podemos pular essa parte e ir direto para uma questão pragmática, de saúde pública: abortos vão acontecer diante do desespero de uma menina ou de uma mulher. Garantir que o Estado reconhecesse o direito ao aborto seguro evitaria milhares de mortes por procedimentos clandestinos ou realizados de forma precária. Com certeza Se bispos tivessem útero, a história seria diferente, é claro. E se fosse sua filha? Para além do debate religioso, legal e filosófico, é uma questão de redução de danos. Ao invés de avançarmos para o lado da dignidade das mulheres, contudo, fundamentalistas querem que rastejemos para o lado oposto. Mesmo em situações em que o aborto é permitido, mulheres que recorrem à interrupção da gravidez enfrentam os mais diversos tipos de violência. Há médicos que recusam atender mulheres mesmo em processo de abortamento espontâneo; servidores públicos chamam a polícia alegando que elas cometeram crime; e o calvário de ter que viajar muitos quilômetros para encontrar um serviço público que possa atendê-las, pois há médicos e hospitais que se negam. Enquanto isso, as bancadas do fundamentalismo religioso no Congresso Nacional, e têm atuado em nome de projetos que são retrocessos à dignidade humana. enquanto deveriam primar por Leis mais severas em Defesa da Criança pois uma Criança passar por isto é muita crueldade. A proporção que toma um caso como o da menina de São Mateus que deveria ser simples e lógico, muito por conta de políticos que acham que o corpo de meninas e mulheres é um campo de batalha para a sua cruzada particular, é a prova que estamos ainda mais próximos de uma distopia apocalíptica do que de uma sociedade de direitos em defesa da Criança. Estes acreditarão estarem fazendo o certo, quase em uma missão civilizatória ou divina. Preconizar religião num momento destes é um absurdo. so resta citar uma das passagens mais legais dos Evangelhos cai aqui como uma luva: Lucas, capítulo 23, versículo 34: “Pai, perdoai. Eles não sabem o que fazem”.
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