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Eles existem, são muitos e desejam viver.

*Por Marlise Fernandes

A pandemia do Novo Coronavírus “chegou chegando”, sem dó e nem piedade. Nos aproximamos de um ano da convivência com um vírus desconhecido e letal. Período em que muito pode ser observado, aprendido e aprofundado em relação ao comportamento dele e também das atitudes dos ditos humanos, nem todos tão humanos. Entre as boas experiências, sem dúvida alguma, a população idosa fez o seu ensinamento, talvez o mais surpreendente e humanizador. Podemos resumir em uma frase :“Nós existimos, somos muitos e queremos viver. Nos respeitem”.

Se olharmos para as estatísticas, temos lá a população idosa sempre presente e devidamente cadastrada e mapeada, mas quando eles se movimentam é que temos a real dimensão de como são muitos e do quanto querem proteção e o respeito ao seu direito de seguirem vivendo. O Estatuto do Idoso já prevê tudo isso, mas geralmente é desrespeitado.
Famílias, de uma hora para a outra, notaram que seus “mais velhos” precisavam de apoio para evitar exposição ao vírus em supermercado, farmácia, parques, ruas, praças, ônibus e espaços de convivência e lazer, já que esses espaços se tornaram ameaça para as suas vidas, muitas tomaram conhecimento a partir desse momento de que os “seus idosos” existem e têm, normalmente, uma vida ativa cheia de compromissos e planos. Mesmo os idosos que vivem em espaços isolados sem receberem o carinho merecido, com pouca estrutura e péssimas condições sanitárias, se tornaram e não é de hoje, a única fonte de renda de várias pessoas mais novas, que vivem com eles e as quais passaram a sentir um certo “medo da perda” de “sua fonte de renda” . Infelizmente essa é uma realidade nada rara.

A morte de milhares de idosos no mundo (em Porto Alegre, mais de 80% dos óbitos pelo coronavírus são de idosos) por toda a fragilidade e muitos já terem doenças graves tornou essa população a mais exposta e a que mais precisa de proteção. Mesmo que um determinado governante tenha dito que “um dia todos morrem”, ninguém quer que esse dia chegue e muito mesmo dessa forma agressiva, tão sofrida que a doença se desenvolve.

Diante dessa dura realidade, os idosos passam a ter um novo lugar no nosso cotidiano. São os únicos em relação aos quais não existe questionamento sobre a priorização para receberem a vacina. Diante da gravidade da doença nessa população e tendo a idade como critério para prioridade na imunização, não existe argumento contrário. Chamados para a vacinação, se apresentam ansiosos e animadíssimos. São muitos homens e muitas mulheres que lutam pela vida, querem a vacina e não ligam para as besteiras que falam os “revoltados contra a vacina”. Eles, os idosos, por terem vivências e memória histórica sabem o significado da vacina na vida deles e de seus filhos, netos e bisnetos. Os fatos não deixam dúvidas e são uma boa forma de enfrentar as mentiras que são espalhadas por aí e os idosos estão dando o seu recado no tema aderindo massivamente a vacinação.

Ao observar a mobilização deles, dá a impressão de que foram libertados do anonimato, dos esconderijos ou dos abrigos antes invisíveis. A vacina foi até eles, eles estão indo ou sendo levados de carro aos milhares para receber as doses da vida. Também são muitas as aglomerações evitáveis se não fosse a desorganização dos gestores, geralmente bem mais novos. Mesmo nas enormes filas em unidades de saúde e outros locais de vacinação, eles estão felizes e esperançosos de viver por muito tempo ainda, mesmo que as estatísticas queiram minimizar essa euforia toda. São muitos, precisam de atenção e de espaços de convivência em que o lazer e o esporte desenvolvam seus desejos em seguirem com qualidade.

Quando tudo isso passar, é necessário desenvolver ações, replanejar e executar políticas públicas que tenham capacidade de acolher os desejos desses milhões de idosos no Brasil, que finalmente foram vistos e estão tendo um maior reconhecimento nas gerações mais novas, também no sistema de saúde, na comunidade científica, na sociedade como um todo.

Reconhecer que são dignos de atenção, prioridade e direitos é uma evolução. Cabe também adequar atendimento especial nas redes de saúde aos que desenvolveram a doença, visto que muitos ficaram com problemas mais graves e isso exigirá novos investimentos públicos e privados para suprir os atendimentos específicos.

Podemos comemorar ainda o lugar protagonista que assume a pesquisa, a ciência que com muita agilidade e eficiência vem demonstrando claramente de que sem ela não existirá humanidade. Cada dia, mesmo com todos as dificuldades que vivemos em nosso país, estamos conseguindo perceber algumas situações positivas, como essa que aqui analisamos. Não perder a esperança em dias melhores e estimular ações que protejam as pessoas que mais necessitam, já é uma boa atitude.

*Gestora Pública e Especialista em Planejamento Estratégico em Políticas Públicas

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