Da glória do Capão dos Padres, ao abandono do Capão do Corvo
Por | Marco Leite
Andei afastado por uma semana, quebrei o dedo do pé nas quadras do Capão do Corvo (Parque Getúlio Vargas), brincadeirinha, nem tive tempo de ir ao meu querido Capão dos Padres por esses dias. Meu afastamento foi em decorrência do acúmulo de trabalho, fiquei doente e atrasei algumas tarefas, então concentração total. Afinal, preciso ganhar dinheiro também, não sou e nem quero ser financiado pelo poder público, afinal não quero ser pautado por ninguém, que não seja a população canoense.
Dito isso quero falar do Capão do Corvo, que agora são dois, um para fotografia e o real que é usado verdadeiramente pelos seus frequentadores. O Capão foi inaugurado em 13 de dezembro de 1980, mas eu, como alguns somos dos tempos das aventuras do Capão dos Padres, dos grandes lagos, do campo santo, das fugas dos cachorros, do futebol e outras tantas travessuras. Os mais antigos devem ter saudade de antes do Parque ser invadido pelo Jardim do Lago e privatizarem um dos laguinhos para chamar de seu, agora a natureza tem donos e nós temos que passar por guardas para poder visitar.
A ideia da inauguração do Getúlio Vargas seria para preservação da natureza, conectar a população com o lado, digamos, florestal da Cidade. Por alguns anos isso foi possível, hoje temos até um mini zoológico ali, onde autoridades volta e meia soltam uns bichinhos, em um belo trabalho de reabilitação de espécies que são encontradas machucadas e ali são entregues.
Mas o Capão só tem diminuído, as caminhadas até aumentaram, mas o parque perdeu, e muito, do seu projeto original, a natureza não foi poupada como foi prometido em 1980. O Capão só é bonito na propaganda enganosa, ele é apenas um herói que agoniza em sua resistência a ação imobiliária e pelas Torres que começam a cercá-lo.
Em 22 de setembro de 2016 foi inaugurada a ampliação do Parque Getúlio Vargas, com um novo lago de filtragem natural, deck com acesso ao espelho d’agua, show de águas dançantes, playground lúdico, iluminação de LEDs e um anfiteatro com capacidade para 500 pessoas. Em dezembro de 2017 foi inaugurada uma passarela ligando o parque ao ParkShopping Canoas. Esse é o Capão da fotografia para a mídia, e financiado pela iniciativa privada, porém a manutenção está péssima, basta irem lá olhar as telas dos brinquedos para as crianças e observarem os pequenos detalhes do lugar.
VEJAM O ESTADO DAS CANCHAS E ARREDORES
Mas vamos falar do velho Capão, o da parte antiga, ali a manutenção é zero, não vamos citar muita coisa, vamos exemplificar com as quadras de esportes, é a cara do abandono de longo tempo, por isso minha brincadeira que quebrei o pé ali. A pista de patinação nem se fala, é apenas uma pinturinha aqui e outra ali, digamos, uma maquiagem muito mal feita. São nascentes como a do Arroio Araçá estranguladas pelas construções, com isso a vida nos lagos pede socorro, ali vivem vários peixes, tartarugas, e outros animais nativos.
O Capão precisa de cuidados em sua saúde patrimonial, que é a natureza e manutenção do que foi construído para a prática de esporte, que aliás devem passar por uma reconstrução devido ao grande e longo abandono.
Para nós, os antigos moradores e frequentadores, fica apenas a saudade dos personagens que dão nome ao parque, os corvos, nem eles aguentaram tanto abandono e aos poucos foram abandonando o parque. Antigamente também podíamos comer frutas no Capão, não existem mais, eram elas que atraiam os pássaros e outros animais ao redor do lago, hoje agonizante.