Café com o Aldeia | Marlon Casagrande, “nós, da Sogal, acertamos 98% das ações e somos avaliados por 2% de nossos erros”
Por | Marco Leite | EXCLUSIVO
Chagamos ao terceiro Café com o Aldeia, ele vem carregado de nostalgia. Vocês acreditam que a primeira coisa que fiz, em 1978, foi andar em um Romeu & Julieta da Vicasa – Viação Canoense, mas aí já é outra história a ser contada e não nos faltará tempo para isso.
Hoje fomos recebidos, por Marlon Casagrande, o comandante da Sogal – Sociedade de Ônibus Gaúcha, empresa que se confunde com a história de Canoas. Nós, do Aldeia, somos muito críticos a Sogal, os tais 2% de erros não nos passam desapercebidos e denunciamos mesmo. Afinal, nosso interesse é o bem comum da cidade, se existe erros nós postamos.
Porém, resolvemos ouvir um pouco o outro lado, o da empresa, dos empresários, dos trabalhadores e suas relações com o poder público de Canoas. Marlon, sempre cordial e atencioso, fez questão de nos mostrar todas as dependências do complexo. Enquanto nos relatava os fatos, ele nos apresentou todos os setores que fazem uma empresa com quase 500 funcionários funcionar.
Para acompanhar a circulação dos coletivos pela cidade uma tecnologia de última geração, com câmeras em todos os coletivos e, principalmente, controle de horários rígidos.
O complexo oferece: área de estar para os trabalhadores com biblioteca, oficinas limpas e bem montadas para a manutenção dos veículos, peças a disposição para reposição (se preciso for), posto de combustíveis, lavagem de todos os veículos por dentro e por fora, entre outros benefícios.
Achamos por lá seu Osório Biazus, seria o senhor do transporte público de Canoas. Seu Osório é uma lenda na Cidade, ele e sua esposa, dona Zilma, são os beneméritos da Aldeia, onde fazem ou fizeram partes de várias entidades que prestam solidariedades aos mais necessitados. Vamos dar um exemplo: o prédio da CICS foi construído na gestão do seu Osório.
Mas quem comanda a empresa é Marlon, ele é empolgado e fala com carinho de tudo, parece ter amor, responsabilidade e conhecimento do empreendimento que dirige. Marlon entende que acima dos lucros, que segundo ele não existem, está a responsabilidade social da empresa.
E é exatamente sobre isso que vamos conversar, então vamos a sabatina com o jovem empresário.
A primeira pergunta vem em cima de sua declaração, o que seria os 98% de acertos e os 2% de erros? Pois notamos uma certa mágoa com a visão que a sociedade tem da Sogal, uma empresa que se confunde com a história da cidade.
Quando me refiro aos 98% de acertos, eu quero mostrar que a empresa cumpre com mais de 98% de toda a programação de viagens diárias determinadas pela Prefeitura, atualmente fazemos 1.567 viagens a cada dia e menos de 2% delas ocorrem algum tipo de problema tais como, falha mecânica, congestionamento, acidentes comuns de trânsito, pneu furado, travamento de catracas, entre outros. Mas, vale lembrar, que este índice de cumprimento de viagens está acima de muitas capitais do nosso país, hoje em muitos contratos de concessão os índices estabelecidos para o cumprimento de viagens são de 95% de toda a programação estabelecida pelo poder concedente e estamos acima disso atualmente. Apenas lamentamos, é que não existe como cumprir o 100% devido a muitos fatores que não podemos prever e infelizmente somos avaliados por muitos pelos fatos isolados que representam esses 2%. Problemas que na verdade ocorrem em todas as cidades que possuem transporte coletivo, na verdade a empresa tem a sua imagem desgastada e é avaliada pelos seus erros que infelizmente ocorrem em qualquer empresa do setor.
A Sogal tem a sua história construída em nossa cidade, a empresa iniciou suas operações no ano de 1967 com empreendedores da época, é uma empresa nascida em nossa cidade, cresceu e desenvolveu-se com a nossa gente, uma empresa que faz parte da história de Canoas e do RS, pois o nome já diz, SOCIEDADE DE ÔNIBUS GAÚCHA. A Sogal foi a primeira empresa do estado a implementar a bilhetagem eletrônica, o que trouxe grande avanço para o setor, sempre foi uma empresa que buscou se desenvolver e se modernizar ao longo da sua história. Temos uma equipe muito competente e com excelentes profissionais, dedicados a fazer o melhor, para cada um de nossos passageiros. Possuímos nossas redes sociais no Instagram e Facebook, onde todos podem acompanhar as ações da empresa, se possível nos acompanhem por lá, @sogal.oficial.
Pouco tempo atrás o Governo Federal destinou cerca de R$ 4,5 milhões para custear a gratuidade que a Sogal oferece para várias categorias de passageiros. Mas parece que o dinheiro trancou no poder público, porque o município só depositou a metade e ficou uma pendência para ser parcelada? Pelo que entendemos a município tem que subsidiar as gratuidades com verba própria e não usar um benefício federal para isso.
O valor destinado pelo governo federal foi para o custeio dos passageiros idosos de 65 anos para cima, benefício este já concedido no transporte público de todo o País há muitos anos, este recurso na verdade é um auxílio emergencial ao setor, que teve um grande desequilíbrio econômico e financeiro desde o início da pandemia. Em uma breve retrospectiva, é importante analisar que em março de 2020 fomos surpreendidos por uma pandemia jamais vista e com consequências inimagináveis, o setor de transporte coletivo foi um dos mais afetados, pois perdeu de um dia para outro 90% dos passageiros com as medidas restritivas e sanitárias do lockdown, o setor já vinha apresentando dificuldades através da queda anual de passageiros, ocasionada pelos aplicativos de transporte individual, a pandemia era o golpe que faltava para colocar o setor na UTI.
O recurso recebido pelo município de Canoas é parte dos 2,5 bilhões de reais destinado ao setor no Brasil inteiro, cada cidade recebeu a sua parcela deste recurso para usar no transporte público de sua cidade, porém, a decisão de como usar o recurso fica a cargo de cada Prefeitura, ela determina como será usado, as empresas precisam apresentar um plano de ação, detalhando onde vai usar o recurso.
É preciso entender que atualmente a Prefeitura de Canoas paga por todas as gratuidades do sistema, idosos de 60 a 64 anos, pessoas com deficiência físicas e mentais, portadores de HIV, estudantes de baixa renda e também segunda passagem gratuita. Penso que a decisão de repassar 2,5 milhões para a empresa e usar os 2 milhões para custear as gratuidades mensais neste início de ano, seja por conta das dificuldades de orçamento do município.
Soubemos que foi feita uma pesquisa, com o público alvo da empresa, OS PASSAGEIROS, qual foi o resultado? É verdade que a grande maioria quer a continuidade da empresa no sistema de transporte coletivo de Canoas?
Durante o processo de prorrogação do contrato da Sogal no ano de 2019, foi feita pela empresa através de um instituto de pesquisas, uma avaliação dos serviços junto aos usuários de transporte coletivo específico da Sogal, os números mostraram uma aprovação de 68 %, paralelo a isso a tripulação dos ônibus fizeram um abaixo assinado perguntando se a empresa deveria continuar prestando o serviço , o volume de assinaturas espontâneas recebidas a favor da empresa durante os dias de coleta , foram mais de 27 mil assinaturas a favor de manter a empresa .
E aí, chegamos a grande pergunta, este ano teremos a famosa licitação do transporte coletivo, o que a Sogal pretende fazer em relação a isso? Com a licitação a expectativa de vida da Sogal será de 8 meses, opinião do Aldeia, OK.
Sim você está certo, somente 8 meses, por isso precisamos repensar e avaliar as consequências desta medida, devido à grande complexidade que envolve esta questão. O tema licitação é algo muito preocupante na minha visão, pois no final de 2018 recebemos 1 ano de contrato, o que não permitiu melhorias previstas no sistema, já em 2019 recebemos mais 4 anos de contrato, do total de 10 anos que teríamos direito pelo contrato de concessão, o fato é que dos 4 anos que recebemos, praticamente 3 anos passamos em pandemia, não se pode fazer muita coisa a não ser sobreviver a esta crise sanitária que abalou as finanças de milhares de empresas em nosso país e no mundo. Precisamos dialogar com a Prefeitura para termos uma tolerância nessa questão e dilatar o prazo para que possamos recuperar os prejuízos acumulados nos anos de 2020 e 2021 e também honrar com todas as repactuações bancárias feitas durante a pandêmica, outro fator é que precisamos criar lastro financeiro para a desmobilização futura da concessão, atualmente são centenas de famílias que dependem dos empregos gerados pela empresa e não podemos esquecer disso. Com certeza, tudo isso precisa de tempo para ser planejado e organizado, pois estamos falando de uma empresa de 56 anos de existência.
Em três anos de Pandemia, a Sogal acumulou um prejuízo de cerca de R$ 22 milhões, quem irá arcar com estes custos, caso a empresa não continue no transporte coletivo canoense?
Esse é o grande problema, pois quem tem que arcar com esse prejuízo é a própria empresa, este passivo foi acumulado nos anos de 2020 e 2021 no pior período da pandemia, tivemos que demitir 50% dos nossos colaboradores e desmobilizar abruptamente nossas operações, muitas empresas quebraram nesse período, mas fomos ágeis na tomada de decisões e fizemos as mudanças antes de nós tornamos insolventes, mas tudo ainda está sendo administrado e o passivo controlado, com a empresa operando isso vai se ajustando e sendo pago. Mas, no caso da retirada da empresa o que é um direito do poder concedente, realmente será um grande problema, pois o passivo acumulado da pandemia, somado a desmobilização total da concessão sem dúvida nenhuma será o pior cenário para todos e precisaremos buscar está solução junto ao município, por isso a flexibilização de prazo no contrato é a forma mais inteligente para todas as partes envolvidas e a solução para todos estes passivos.
Todos sabemos que a Sogal ainda tem o direito de ficar mais cinco anos atuando no transporte, seria o restante dos 10 anos que a empresa tem direito de prorrogação no contrato, o que será feito? A Sogal irá em busca de seus direitos?
A empresa cumpre com todas as determinações feitas pela SMTM, que é a secretaria que fiscaliza e administra o contrato, sempre buscamos o diálogo junto à Prefeitura, vamos apresentar nos próximos meses, um projeto para os próximos 5 anos, precisamos mostrar os cenários possíveis para que seja avaliado pelo poder concedente.
Como está a relação da Sogal com o governo Canoense? A Junta de Governança ainda está atuante?
Temos uma relação institucional boa junto ao governo, em 2020 foi criada a junta de governança e também a junta financeira, mostrando transparência total ao poder concedente, está junta atua desde a sua criação com reuniões semanais na empresa e na SMTM, esta medida traz uma atualização semanal de todos os fatos relevantes que ocorrem no sistema.
Por fim, em cinco anos a empresa poderá recuperar-se e garantir o emprego de quase 500 funcionários. Que com a licitação ficariam, certamente, desempregados, e sem ter onde trabalhar?
Sem dúvida o passivo acumulado durante a pandemia seria resolvido, a nossa maior preocupação é com as pessoas que trabalham em nossa empresa , queremos manter os empregos de todas estas famílias que dependem da empresa, temos uma grande responsabilidade social com nossos colaboradores e também com a sociedade, pois diariamente levamos milhares de pessoas para todos os cantos da cidade e essa é nossa vocação, em 5 anos vamos ajustar muita coisa, desta forma é possível fazer uma grande renovação de frota e melhorar a qualidade do serviço .
Como a Sogal está lidando com suas pendengas trabalhistas, o que foi honrado e o que não foi ainda cumprido?
É importante voltarmos a 2020, para entender os reais motivos de tudo isso, neste ano da pandemia a demanda de passageiros reduziu vertiginosamente nos obrigando a fazer um PDV (programa de demissão voluntária) todo este processo teve a participação do Poder Judiciário e com a fiscalização do Ministério Público do Trabalho, cada trabalhador aderiu ao acordo por livre e espontânea vontade, foram dadas garantias reais no processo, tais como imóveis e créditos de empresas ligadas ao grupo, para que no caso de inadimplemento o juízo poderia vender patrimônios das empresas para sanar os atrasos. Vale lembrar, que o atraso de qualquer parcela do acordo acarreta em 1% de multa ao dia a favor do colaborador desligado, isso é uma multa absurdamente alta, para ter uma ideia, em 30 dias são 30% de multa sob o valor da parcela, para a empresa atrasar esse acordo é o pior cenário possível. Já para o ex-funcionário que aderiu ao PDV, entendo que é ruim não receber em dia, mas acaba tendo um aumento exponencial nos valores a receber do seu acordo. Já foram pagas 24 parcelas desse acordo, muitos já foram quitados, outros receberam o valor principal de seus acordos, restando as multas devidas pelo atraso durante os meses que se passaram, porém outros ainda tem parcelas a receber. No momento estamos com 3 parcelas em aberto, lamentamos muito pelo atraso, mas infelizmente quando este assunto vai para as mídias e redes sociais, acaba tendo muita distorção da realidade dos fatos, e nunca é mencionada as vantagens que se teve em aderir ao PDV e as compensações decorrentes do atraso. Mas tudo será honrado, nenhum direito adquirido ficará sem a devida solução.
Aponte um pouco de suas esperanças para nosso transporte, qual o futuro da empresa?
Canoas é uma cidade pujante, que cresce a cada dia, penso que uma cidade do porte de Canoas precisa ter uma infraestrutura melhor para o transporte coletivo, como faixas exclusivas, trazendo mais agilidade e eficiência ao sistema. É preciso priorizar o coletivo, ter paradas de ônibus com maior confronto e segurança para os passageiros, um transporte de qualidade não se faz apenas com os ônibus, precisa ter infraestrutura planejada. Desta forma mais e mais pessoas usariam o transporte público, hoje temos ônibus em nossa frota com a configuração do sistema BRT, específico para este uso, penso em um programa de renovação gradual da frota, onde possam ser incluídos alguns ônibus de energia limpa, tais como elétricos ou híbridos, tornar o transporte coletivo acessível a todos, através de um sistema de qualidade e que atenda a todas as classes sociais.
Obrigado pela confiança ao entrevistado Marlon Casagrande, e bom café para todos.
Nosso café pode ser doce ou amargo, quente ou frio, mas existem pessoas que gostam de diferentes formas, eu prefiro quente e doce. Estamos em um novo caminho, onde todos irão manifestar-se, o espaço para o Café com a Aldeia é para promover um grande debate e que traga melhorias para nossa comunidade.