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Um marco histórico esquecido na Santos Ferreira

Por | *Cauê Nascimento

Este é um “marco histórico”, não só para a Cidade de Canoas, mas como também para toda a história do Rio Grande do Sul, com ligação direta com a história brasileira, uruguaia e, senão, também com a portuguesa-colonial.

Este simples marco está plantado em pleno centro de uma quina da Praça chamada de “Parque Histórico Pinto Bandeira” (à beira da Avenida Santos Ferreira, quase divisa com Cachoeirinha), em Canoas, no Bairro “Estância Velha”, Bairro mais antigo da Cidade (não por acaso, chamado de “Estância Velha”), onde era para ser instalado, certa feita, o “Centro” da nossa Cidade.

Neste local se encontrava, nada mais, nada menos, que o casarão e o centro vital da Sesmaria do Tenente do Corpo de Dragões, o tropeiro e militar brasileiro FRANCISCO PINTO BANDEIRA.

Francisco Pinto Bandeira (descendente de família originaria da região do Porto, de Portugal, neto e bisneto de santistas fundadores de Laguna, onde nasceu em 1701, porém falecido em Rio Pardo, em 1771) foi um importante militar brasileiro, principalmente para a história das conquistas do Sul do país (participante da brutal Guerra Guaranítica), onde, por decorrência de suas incursões bélicas, tropeou, inclusive, com seu companheiro de armas, o pioneiro, também militar e tropeiro, CRISTÓVÃO PEREIRA DE ABREU, levando pontas de gado a seu comando, dos “Campos de Viamão”. Francisco foi escolhido para explorar os sertões do Continente de São Pedro do Rio Grande do Sul, a fim de povoá-los e tomar posse das terras.

Casado com Dona Clara Maria de Oliveira (filha de portugueses, retirantes da Colônia do Sacramento), viu, em 16 de novembro de 1740, no povoado de Rio Pardo (cerca do “Forte Jesus, Maria, José de Rio Grande”), o nascimento de seu filho, RAFAEL PINTO BANDEIRA (outro famoso militar, o primeiro brasileiro a receber o posto de Oficial General do Exército Colonial Português).

Grande parte da população lagunense veio radicar-se, a partir de 1733, nos “Campos de Viamão” (que não abrangia, geograficamente, somente a Cidade atual de Viamão). Os “Campos de Viamão” compreendiam, à época, toda a região entre a Lagoa Dos Patos e o mar (como Palmares, Osório e Tramandaí), estendendo-se por Porto Alegre, Rio Guaíba, Rio dos Sinos, incluindo parte da Serra e arredores.

E Francisco Pinto Bandeira chega junto de Laguna, a serviço da Coroa Portuguesa, para defender o então local dos castelhanos, com o plano estratégico de impedir suas expansões ao longo da região do Rio dos Sinos. Foi nesse plano que ele recebe uma porção de terra (uma das vinte e sete, fragmentadas dos “Campos de Viamão”), localizada na “Paragem Guaixim-Sapucaia”, instalando ali sua Estância, batizada de “FAZENDA DO GRAVATAÍ”, com sede no topo da “Colina do Abílio” (parte alta do atual “Bairro Estância Velha”), com limites entre o Rio Gravataí e os Arroios Sapucaia e da Brigadeira (os nomes dos arroios já são modernos). A Estância era uma mescla de Fazenda e de Fortaleza (típica formatação das Sesmarias militares), gerando um pequeno povoamento em seu redor.

Os Brito Peixoto (tronco ascendente de Francisco Pinto Bandeira) e, por conseguinte, os Pinto Bandeira, são considerados por muitos historiadores os desbravadores pioneiros do nosso Continente de São Pedro do Rio Grande do Sul.

Com a morte de Francisco Pinto Bandeira (em 1771) a Estância fica para a viúva (Dona Clara Maria), que vem falecer dez anos depois (em 1881, em Porto Alegre), passando agora, a Fazenda, para seu filho, o Caudilho e Governador da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul (qual assume em 1984) Rafael Pinto Bandeira (ampliando inclusive as terras, adquirindo campos de “Nossa Senhora Madre de Deus”, hoje “Centro Histórico” de Porto Alegre e “Bairro Independência”).

A primeira divisão de terras, porém aconteceu, entre os herdeiros, somente em 1861, mais de um século depois.

O Brigadeiro Rafael Pinto Bandeira (personagem retratado no romance e nos filmes de O TEMPO E O VENTO) casa-se em 1778, em Rio Grande, com dona JOSEFA EULÁLIA DE AZEVEDO, mulher nascida em Colônia, no Uruguai (com ascendência portuguesa, entre Coimbra e Lisboa), que com o tempo recebe o popular apelido de “BRIGADEIRA”, devido ao posto de seu marido, quando o mesmo falece em 1795, devido a um acidente, com um cavalo de sua montaria. Foi desse apelido que brotaram as nomenclaturas da “Chácara da Brigadeira”, em Porto Alegre, e da “Fazenda da Brigadeira”, em Canoas.

Deste casamento, nasce Dona RAFAELA PINTO BANDEIRA (em 1792, na “Chácara da Brigadeira”, atual “Centro Histórico” de Porto Alegre), que se casa em 1812 com VICENTE FERRER DA SILVA FREIRA (Coronel de Milícias, de 1ª Linha, nascido em 5 de Abril de 1782, em Salvador, na Bahia), o qual assume a propriedade agora da Fazenda.

Vicente Ferrer da Silva Freire é aquele famoso militar Imperial, morto a tiros pelas costas, aos 53 anos, por uma Escolta Farroupilha, à revelia de seu superior, o Coronel Manuel Vieira Rocha (conhecido popularmente como Cabo Rocha), em 26 de Janeiro de 1836, em um dos capões de sua Fazenda (o “Capão do Diogo”, da “Fazenda do Gravataí”, em local hoje onde está o “Bairro Niterói”), junto a seu filho DIOGO PINTO BANDEIRA DA SILVA FREIRE (de 23 anos, neto de Rafael Pinto Bandeira e bisneto de Francisco Pinto Bandeira) e um de seus Alferes (Sr. José Maria Lobo), todos contrários aos Farrapos. Os cadáveres foram barbaramente profanados, sendo do Coronel cortado uma orelha e do seu filho cortado os dedos da mão esquerda.

Um dos sete filhos do casal (todos nascidos em Porto Alegre) chamado também de VICENTE FERRER DA SILVA FREIRA, considerado o pioneiro do povoamento urbano de Canoas (trazendo, inclusive, a linha férrea para a cidade), esteve alistado, como Major da Guarda Nacional, lutando nas frentes da Guerra do Paraguai, ao eclodir a revolução, em 1865 (o famoso e belíssimo Sobrado de Vicente Ferrer Filho, lindeiro aos campos do Sr. Umberto Círio, e construído à beira do Rio dos Sinos, à época, onde hoje é Nova Santa Rita, já na década de 1950 encontrava-se em ruínas, tendo com o tempo, infelizmente, sido depredado e demolido, pelas procuras constantes de tesouros referentes à época da Tríplice Aliança e à família).

Os antigos moradores da “Estancia Velha” diziam em entrevista (vide livro “Estância Velha”, de Rejane Penna, Darnis Corbellini e Miguel Gayeski): “Sabe onde estão os canos da Prefeitura, no início da Estrada do Nazário? Ali é para sair uma pracinha. Ali é o início da história de Canoas. ” Era este o local onde ficava o centro do povoamento gerado pela Estância-Fortaleza dos Pinto Bandeira.

Em 1965 o Professor ARMANDO WÜRTH (diretor de Educação, Cultura e Assistência Social da Prefeitura Municipal), procura, junto ao Prefeito Municipal, a viabilidade de adquirir, restaurar e manter o então sítio (em uma já pequena porção de terra) da “Velha Estância”, onde estavam os restos da sede da “Fazenda do Gravataí” e suas primeiras casas erguidas na Sesmaria histórica. Este pesquisador descobriu que a “Zona Alta” de Canoas, chamada de “Estância Velha”, fora a antiga “Colina do Abílio”, local da sede da primitiva Sesmaria, onde ainda ali continha um casarão, quase bicentenário (contendo 14 metros de frente), além de outros caseríos ao derredor. O local, segundo Armando, permitia uma verdadeira reconstituição da história do nosso Estado e da nossa Cidade, contendo elementos autóctones da nossa história e da nossa arquitetura primitiva, com condições plenas de ser um atrativo turístico inigualável no Rio Grande do Sul. O Instituto Histórico e Geográfico apoiou a proposta, junto à Câmara Municipal de Vereadores, mas, infelizmente (muito infelizmente) o projeto não saiu, o local foi vendido para a exploração imobiliária local, destruído, com muito da nossa história se perdendo através do tempo, e para sempre.

Em 1982, foi realizado um espetáculo na praça, com cavaleiros caracterizados e uma pequena cenografia, representando a chegada de Francisco Pinto Bandeira ao local e à Província de São Pedro do Rio Grande do Sul.

Da descendência direita da união dos troncos dos PINTO BANDEIRA e FERRER DA SILVA FREIRE ficou as seguintes famílias: Batista Pereira; Vilanova; Nunes de Andrade; Schell; Felizardo; Barcelos; Rodrigues Barcelos; Cunha Rasgado; Franco Di Primio; Franco dos Reis; Alberton de Azevedo; Batista Soares; Anes Gonçalves; Cabeda; Silveiro; Maisonette; Paiva Chaves; Eiras; Barreto; Barreto Viana; Souza Velho; Cirne Lima; Goulart Reis; Freire de Figueiredo; entre outras, muitas conhecidas em nomes de bairros, ruas e praças ao largo das Cidades de Porto Alegre, Canoas e arredores (como as famosas “Pinto Bandeira”, “Coronel Vicente”, “Guilherme Shell”, dentre outras).

Da sede da Estância, nem pedra restou…

Nem foto, nem registro…

Nada.

Só relatos poucos, de poucos historiadores canoenses, que, se não fossem estes, nada mais haveria. Pouco se fala nos bancos escolares, nem para honrar nossa Cidade, que possui grande lastro nessa grande história sulina.

Só ficou um “marco”…

Um simples marco. Foi disso tudo que, em uma simples quina escura, de uma simples Praça de Canoas (no “Parque Histórico Pinto Bandeira”), resta somente este simples marco de concreto, que pouco representa o gigantismo e a verdadeira importância do local na força da nossa história Rio-Grandense e brasileira, a qual tanto nos orgulhamos e defendemos.

*Cauê Nascimento

Historiador, pesquisador e jornalista

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