Categorias

Most Viewed Posts

Header Ad

Categories

  • Nenhuma categoria

Most Popular

Most Viewed

Sorry! Try with valid API key.

83 anos, no rastro dos picumãs

Dentro da programação dos festejos de emancipação teremos no ParkShopping Canoas a exposição Pergaminhos da Emancipação, promovida pela revista Diário de Bordo e o historiador Edison Barcellos, veja programação abaixo.

Por Marco Leite | Um imigrante

Como nasceu Canoas? Como foi a história da emancipação, que hoje comemora 83 anos?

As histórias dessas perguntas já foram dadas e contadas aos quatro ventos e não pretendo repetir novamente. Pensei em algo diferente e me ocorreu na memória a boa e velha Maria Fumaça, deixando seus rastros de picumãs e com isso abrindo caminho para o surgimento de nossa querida cidade de Canoas.

Minha vida inteira foi ligada à linha férrea e pelos trens da via, começou em Uruguaiana e continuou em Canoas. Cheguei na cidade, de trem, no primeiro dia de 1978 e acompanhei toda a transformação da Maria Fumaça para o Trensurb. Transformação esta que acabou com o desaparecimento da Maria Fumaça e seu rastro de picumãs.

É o progresso que dividiu a cidade em dois lados, e o centro virou uma ilha com duas divisórias, a do trem e a da BR-166. A Maria Fumaça de Canoas já circulou com personagens reais, por exemplo, a Princesa Isabel andou nesse trem.

Eu sempre morei perto da linha do trem no Centro, minha mãe mora até hoje ali na Fioravante Milanez, edifício Damaso Rocha, durantes anos foi o lugar mais alto da cidade e a gente podia ver os trens chegando pela manhã com a fumaça saindo de suas chaminés. Era uma alegria, alguns seguiam direto e passavam pela Victor Barreto, outros dobravam a esquerda perto do 5º Comar e seguiam para Nova Santa Rita, Fanfa e iam Pampa afora até chegar a Argentina.

Durante muito tempo foi trem de passageiros e tinha um podre de chique, o Trem Húngaro, cheguei a viajar em todos eles. Era um tempo mágico, os trens tinham restaurante e serviço de bordo. Normalmente as viagens eram à noite e chagávamos aos lugares ao amanhecer. Quem é mais velho deve lembrar desses tempos.

Bairro Niterói enchente meados de 1920, linha do trem ficou debaixo d’água
Bairro Rio Branco também na enchente de meados de 1920
Linha do Trem sobre o Rio Gravataí, na divisa com a capital

A HISTÓRIA

Pela formação de nossa cidade passa a teia de aranha tornada negra pela ação da fuligem causada pelas chaminés das Marias Fumaças que ajudaram a colonizar a cidade de veraneio, depois dormitório e hoje a terceira maior do Estado do Rio Grande Sul. Uma cidade que é acolhedora e sabe tratar seus imigrantes, eu sou um deles e tenho muito orgulho de fazer parte desta comunidade.

Aqui me tornei um cidadão, vivi minha adolescência e me tornei parte da cidade, vi a cidade se desenvolver e, aos trancos e barrancos, tornar-se um lugar legal para se viver. Eu gosto do lugar onde escolhi para morar e desenvolver minha profissão, ser canoense é uma honra.

Linha férrea em Canoas nas enchentes da década de 60.
Andar nos trilhos em Canoas na década de 70.
Estação do Capão das Canoas na década de 20.
Registro da primeira parada de trem no Capão das Canoas no início do século XX
Obras da construção da estação do metrô em Canoas no início da década de 80.
Registro das obras da construção da linha do metrô no início da década de 80 em Canoas.
Antiga Estação de Trem e a passagem do metrô nos anos 90 em Canoas.
Rebaixamento do Trem, que divide e isola o Centro da Cidade, ficou só na promessa de políticos enganadores.

Mas vamos aos trens e seus picumãs…

Os trens começaram a parar por aqui quando a estação de Canoas foi inaugurada em 1874 pela The Porto Alegre and New Hamburg Brazilian Railway, nas terras da Fazenda Gravataí. O local deu origem à cidade, que começou a se formar durante a construção da ferrovia, onde alguns trabalhadores aproveitavam toras de madeiras derrubadas para produzir canoas. A vila, chamada de Capão das Canoas, desenvolveu-se rapidamente e passou a ser ponto de veraneio das famílias de Porto Alegre, de forma que, em 1885, eram anunciados oito trens ligando Porto Alegre à Canoas em cada domingo.

Em 1905, a estação e a linha foram assumidas pela Cie. Auxiliaire, e, em 1920, pela VFRGS. Já em 1907, o prédio da estação foi descrito em um livro daquele ano como sendo “uma casinha de alvenaria de tijolos, coberta de telhas de barro destinadas à bilheteria e à estação, com área de 5,50 m x 3,40 m”.

A partir de 1909, a estação serviria às linhas de Caxias e de Porto Alegre-Uruguaiana, até 1937, quando foi aberta a variante ligando Diretor Pestana a Barreto, encurtando em 50 km a linha para Uruguaiana e evitando a passagem pela estação, que passou a atender apenas às linhas para Caxias e Canela.

A cidade cresceu, e, em 1934, foi inaugurada uma nova estação, maior que a original, que era de madeira. Em 1939, a cidade virou município.

Apesar de os trens suburbanos da Grande Porto Alegre terem trafegado até 1982, a estação teria sido desativada já nos anos 1970, depois disso servindo apenas como parada de embarque e desembarque. Foi recuperada em 1983 pela Trensurb, mas não para uso como estação.

Está desativada, ao lado da linha, e serve como fundação cultural. A cerca de 200 metros fica a estação da Trensurb, com o nome de Canoas-La Salle. A antiga estação foi tombada pelo município em 14 de abril de 2010.

Atualmente, a Antiga Estação de Trem vem sendo utilizada para encontros de diversos grupos culturais, assim como para ensaios, apresentações e exposições relacionadas à dança.

Endereço: Av. Victor Barreto, 2.301 – Centro Histórico (Fonte Ecom da PMC)

NÃO PERCA, VÁ APRECIE

ParkShopping Canoas recebe a exposição Pergaminhos da Emancipação

O ParkShopping Canoas será palco para arte e história, a partir do dia 27 de junho. A mostra gratuita Pergaminhos da Emancipação será exposta no Piso L2, ao lado do Hotzone, com fotos históricas de Canoas, em comemoração ao aniversário de 83 anos da cidade.

A pesquisa foi realizada pelo historiador Edison Barcellos no Arquivo Público Histórico Doutor Sezefredo Azambuja Vieira, em parceria com a Revista Diário de Bordo, e traz fotos do Século XX, após a emancipação de Canoas. “Toda a pesquisa foi feita entre 2018 e 2020 e a exposição começa com uma imagem da primeira reunião do Movimento Pró-Emancipação de Canoas, em 1933. Depois, o público encontrará fotos de cada década, representando o cotidiano da cidade, paisagens e ainda imagens panorâmicas”, destaca Edison Barcellos.

 A mostra acontecerá de 27 de junho a 10 de julho, de segunda a sábado, das 10h às 22h, e aos domingos, das 11h às 21h. “O ParkShopping Canoas faz parte da história da cidade e nós ficamos honrados em ser palco dessa exposição, que valoriza não só o município, como também os moradores daqui”, ressalta Débora Ziegler, gerente de marketing do ParkShopping Canoas.

Serviço:

Exposição Pergaminhos da Emancipação

Onde: Piso L2 – ao lado do Hotzone

Quando: 27 de junho a 10 de julho

Horário: segunda a sábado, das 10h às 22h | domingo, das 11h às 21h

Gratuita

Era uma vez um trem que deixou saudades

A história contata pelos Jornalistas Jéferson Assunção (textos) e César Fraga (imagens) nos ralata uma despedida, em fevereiro de 1996 o último trem partiu e teve como convidados alguns jornais, o famoso vagão da imprensa, entre eles estavam Victor Necchi, que na época trabalhava na Zero Hora e a Eduarda Streb da RBS/TV. Vamos reproduzir o texto e algumas imagens de uma despedida que poucos tiveram a oportunidade de presenciar.

Começamos com o depoimento emocionado de Cezinha, posso chamar assim, pois amigos se tratam com carinho:

Foi uma viagem muito emocionante. Principalmente para quem, como eu cresceu viajando de trem para São Borja e Restinga Seca, para ver os parentes e ajudar no campo, durante as férias de verão sempre que dava. Foi uma batalha para conseguir que a imprensa fizesse parte da última viagem. Pressionamos pela Revista Voz do Rio Grande, onde era editor, e abrimos pra toda imprensa. Viajamos no vagão em que o Getúlio Vargas se locomovia quando presidente. Foi chocante ver o desespero de algumas pessoas embarcando às pressas porque suas cidades cujo acesso era apenas ferroviário, ficariam totalmente isoladas e desapareceriam. Foi dramático e belo ao mesmo tempo. Chegamos em Uruguaiana e voltamos de carro com a equipe toda. Foi o fim de uma era, infelizmente. Um país sem malha ferroviária para passageiros é uma aberração. Resultado de políticas equivocadas e sucateamento do patrimônio público”, relatou o jornalista.

Agora o texto de nosso amigo Jeff:

No dia 2 de fevereiro de 1996, os quatro últimos vagões do Rio Grande do Sul em condições precárias para o transporte de passageiros formaram a composição do MPA 0103 para partir, às 8h40min, em sua derradeira travessia do Estado, rumo a Uruguaiana e Santana do Livramento. Mais de 200 passageiros participaram da viagem, espectadores de um longa-metragem de 24 horas que se desenvolveu pelas janelas trêmulas, mostrando belas paisagens do Vale do rio Pardo, Central, Fronteira Oeste e Região da Campanha.

Ao deixar a estação Diretor Augusto Pestana, em Porto Alegre, o MPA 0103 inaugurou uma sucessão de 53 plataformas vazias ao longo de uma estrada de ferro que desde 1855 corta o estado rumo a Santa Maria – o trecho até Uruguaiana foi concluído em 1907 -, transportando passageiros e toda a sorte de novidades vindas de Porto Alegre, outras vezes levando para cidades da Região Metropolitana famílias inteiras atraídas pela oferta de emprego nas indústrias e pelo baixo preço dos terrenos perto da Capital. Naquele tempo (década de 70 e 80) os trens viviam cheios de gente do interior e suas mudanças. Pessoas que deixaram para trás sua cidade natal em busca de uma nebulosa sorte perto da capital do Rio Grande do Sul. Eles formaram a população metropolitana e conservaram uma forte ligação à linha, espécie de elo enferrujado entre o presente urbano e o passado na campanha.

Aqueles mesmos trilhos propiciavam as visitas anuais aos parentes, ou a volta desiludida ao interior, que de agora em diante poderá ser realizada apenas por ônibus ou caminhões, após a venda dos imóveis.

Mas a última viagem não carregou nenhuma dessas mudanças. A que ela anunciou por intermédio do barulho causado pelo atrito das rodas nos trilhos foi o fim de uma linha que por 122 anos ajudou a população no interior do Estado na tentativa de realização de seus sonhos quase impossíveis: viver nas cidades que cresciam ao redor da capital e quem sabe prosperar junto com elas.

 Para outros, no entanto, o final da linha de passageiros parece ter consequências drásticas. Algumas localidades dependiam diretamente da linha para a compra de mantimentos, visto que não há ônibus e em alguns lugares nem estradas para locomoção de seus habitantes. “Tem muita gente em Caverá e em Perau que não tem como sair de lá a não ser pelo rio. Muitos estão pensando inclusive em desmanchar suas casas e ir embora”, revela o chefe de trem Jones Antunes de Freitas, que abandonou a função ao término da última viagem do trem, no dia 04 de fevereiro de 1996, ao chegar em Porto Alegre.

A passagem do MPA 0103 inaugurou um período em que as plataformas das estações, até então em atividade, estão vazias, sem função, esquecidas nos vilarejos que formaram-se em torno delas. De cima dos cerca de 50 centímetros dessas plataformas talvez algum desavisado espere um trem que não virá, cancelado pela superintendência regional da Rede Ferroviária Federal SA, que amargura um déficit de R$ 500 mil para mantê-lo. O serviço foi extinto e dá continuidade de a um programa de redução de custos da rede, extinção da linha. Para eles, a RFFSA, ao terminar com estes serviços, termina com seu ponto de contato com a população. A experiência com as linhas de turismo também não é bem vista pelo sindicato. “O fator turístico é importante, mas não se pode transformar esses trens em brinquedos. Existe uma função social que está sendo abandonada”, relata um dos diretores do sindicato, Pedro Chiarelli.

PERDENDO O TREM DA HISTÓRIA

A última viagem dos trens de passageiros do RS esteve repleta de primeiras vezes. Pela primeira vez, em 122 anos, ficou para trás, como caído do trem em sua última viagem, um conjunto de relíquias históricas da rede traduzido na arquitetura típica dos prédios das estações, nos materiais dos escritórios, nas profissões (chefes de trem, mensageiros, camareiros, garçons do vagão-restaurante etc), para desfrute de um outro trem, de cargas, de metal, que em todo esse tempo passou por elas sem parar, e que certamente jamais será capaz do mesmo amor que os trens de passageiros sentiram por sua cor amarelo-claro. A última viagem também proibiu pela primeira vez o gasto do papel comprado em Rio Pardo, às 13h), devorado antes de se entrar no túnel entre a cidade e a estação de Pederneiras ou mesmo, se o dinheiro era pouco, a galinha com farofa trazida de casa. Pontes como as do Rio dos Sinos, Caí, Jacuí e Santa Maria estão trancadas naquela tarde de fevereiro, gravadas com força do lado mais inocente dos cérebros dos passageiros que nunca mais passarão por dentro delas.

CERCA DE 100 MILHÕES DE PESSOAS TRANSPORTADAS

– Até dezembro de 1987 o trem circulou diariamente, passando, depois daquela data, a fazer 3 viagens por semana até 1991. A partir de 1992, circulava apenas uma vez por semana com saídas de Porto Alegre às sextas-feiras.

– Em 1935 a RFFSA bateu seu recorde, transportando 5 milhões de passageiros.

– A linha Porto Alegre/Santa Maria foi fundada em 1985 e ampliada em 1907 até Uruguaiana.

– A linha foi fundada em 1874, ligando a capital a São Leopoldo em um trecho de 43 quilômetros.

– Até 1996 foram transportadas cerca de 100 milhões de pessoas conforme estimativas da rede.

Jéferson Assunção, César Fraga e Edison Barcellos

são cidadãos que ajudaram a contar um pouco da história dos 83 anos de Canoas

    Leave Your Comment

    Your email address will not be published.*