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O Diário Rosa da Bella Donna de Outubro

No mês dedicado ao alerta e a prevenção do Câncer de Mama, optamos por trazer alguns depoimentos de pessoas que estão passando por esse momento, porém, um em especial vai transformar no Diário Rosa da Bella Donna de Outubro.

Nossa La Bella DONNA do Rosa de Outubro tem nome, chama-se Michelle Monfroi, uma Visagista de 40 anos. A guria e seu sorriso carregado de esperança é  canoense e sem medo vai nos relatar  que a luta contra o câncer é uma fase difícil, mas que se enfrentada com serenidade e espiritualidade elevada o sucesso da cura se torna prazeroso e a dor mais leve.

Que sua leitura seja leve, reflexiva, pois estamos falando de amor a vida no Diário Rosa da Bella Donna de Outubro.

Por | Michelle Monfroi | Bella Donna de Outubro

Foto | Edinara Teixeira

Os familiares e o câncer

Nunca tive contato direto com nenhum tipo de câncer. O CA de mama sempre foi algo com que me preocupei, sem me preocupar. Afinal a gente nunca pensa que vai acontecer com a gente.

Eu me lembro perfeitamente daquele sábado pela manhã. Era 27 de fevereiro deste ano. Eu tomava um chimarrão na casa dos meus amigos Aline e Guto quando, sem querer, cocei a minha axila. Lá estava ele, um nódulo. Sem forma, grande, estranho. Arregalei meus olhos para o Guto e disse: tem um nódulo enorme aqui. Ele não existia ontem. A sensação era que ele havia aparecido naquela noite.

Corri para mostrar pra Aline. Corri para mandar mensagem pra o meu ginecologista. Corri para falar com meu namorado.

Eu tinha trabalho pra fazer, viagem agendada na segunda-feira para ministrar aula em SP. Na semana seguinte, ao retornar de viagem, fui ao médico. Mas aqueles 10 dias que separaram o meu toque a ida ao médico forma intermináveis. Dormi, acordei e respirei pensando no nódulo.

Me senti estranha.

No exame da ecografia eu “li” nos olhos do médico: é câncer! Mesmo ele não tendo dito, ele disse com os olhos.

Da biópsia ao resultado, 15 dias se passaram. 15 dias em que pensei todos os dias na morte e na vida. Na vida da minha filha sem mim.

Ah, eu sei que não é sobre morte. Mas é sobre morrer que o câncer nos faz lembrar.

Estava no carro, indo pra uma praia no litoral de SP, quando abri o laudo da biópsia. Mesmo sendo dentista e conhecendo as palavras e os nomes que dão a sentença do câncer, eu apaguei. Meu cérebro apagou. Por instantes, nada daquelas palavras faziam sentido.

Um vazio se criou dentro de mim.

O Ricardo, meu namorado, que estava ao meu lado dirigindo. Parou o carro, sorriu e disse: “Vamos fazer o que precisa ser feito.”

Mas, o que precisa ser feito?

Essa foi a primeira coisa que eu pensei.

O que precisa ser feito? O que eu farei com este câncer?

Vou morrer? E a Malu? E meus pais?

Como vou contar isso pra eles.

Como mãe, eu tenho certeza que prefiro que qualquer problema aconteça comigo e não com minha filha. Apesar de não podermos proteger os nossos filhos das dores do mundo, eu pensei exatamente isso. Meus pais, certamente, prefeririam que esta dor fosse neles.

Estava previsto que eu voltasse de viagem somente no final de semana seguinte. E eu pensei em contar pra eles olhando nos olhos, pessoalmente.

Na hora do laudo, mandei mensagem pra Grazi Piccinini, minha amiga que estava passando pelo CA de mama e acompanhando a minha espera angustiante pelo laudo da biópsia. Acho que todo mundo que recebe um diagnóstico como esse precisa falar de imediato com alguém que esteja vivenciando na pele o câncer. Somente esta pessoa saberá dizer algo muito real e verdadeiro. E a Grazi foi minha fortaleza e meu mapa, meu guia, para os primeiros passos. Em segundos eu tinha todos os contatos médicos e tudo planejado. Naquela nuvem que habitava em mim, o mapa era importante.

Por mensagem mesmo eu conversei com meu irmão, não sei o q ele sentiu. Nunca perguntei. Consigo apenas imaginar o que eu sentiria caso fosse o contrário, e confesso, não gosto nem de pensar sobre. Não queremos ver sofrer aqueles que amamos.

Me fiz de forte. Nem sabia que eu seria forte. Mas fui. Não sei até hoje se eu já tinha me preparado para o diagnóstico ou se a ficha não tinha caído.

Naquela noite mesmo, decidi ligar para os meus pais, uma chamada de vídeo. Na hora eu me lembrei do dia em que, também por mensagem de vídeo, diretamente da Austrália, eu anunciei que eles seriam avós da Malu. E chorei minutos antes de ligar.

Não era essa notícia que eu queria dar pra eles.

Eu liguei.  Não lembro da reação deles. Apaguei da memória.

Lembro da reação deles ao saber que seriam avós, e esta memória que eu prefiro guardar comigo.

Falamos pouco sobre o assunto em casa. Pouco sobre os meus sentimentos, apesar de serem muitos. Pouco sobre os sentimentos deles, apesar de eu imaginar, serem muitos também.

A minha mãe segurou a minha mão na primeira sessão de quimioterapia. Dizem que eu sou forte, mas eu nunca conheci alguém tão forte como a minha mãe. Ela é minha fortaleza. Uma rocha. Se isso é bom, eu confesso que não sei, acho que desabar às vezes é bom também.

Mas ela estava ali. No mesmo hospital em que me pariu, quase 40 anos depois, segurando de novo a minha mão. Não, eu não imagino o que ela sentiu, ela não falou, nem eu. Mas o nosso silêncio nos consolou uma a outra.

Meu pai quis me acompanhar a tudo. Engraçado, parece que ele queria ser eu. Acho que queria.

Vi meu pai agitado. Nem sei se ele se viu assim. Mas eu vi.

Das palavras que ouvi de todos que me acompanharam nas sessões de quimioterapia, as do meu pai, ficarão comigo para sempre: “de tudo na vida, a única coisa que nunca imaginei era estar com um dos meus filhos aqui”. Ele escondeu as lágrimas, mas eu vi.

Minhas amigas também me acompanharam Fê e Aline. Duas fortalezas ao meu lado, que ressignificaram suas vivências a partir do meu câncer. Ambas falaram comigo todos os dias, por mensagem elas cuidaram de mim.

E meu namorado, um cara ímpar nesta caminhada. O cara que nunca me viu doente e fez questão de me lembrar todos os dias da mulher que eu erra.

Não sei como é estar do outro lado. Espero nunca saber.

Mas eu sei como é receber cuidado deles. E recebi.

Recebi o que eles tinham pra me dar: amor.

E o amor cura.

Não é papo bobo.

É amor puro e genuíno que cura as dores diárias de quem acorda com câncer todos os dias, mas acorda vivo todos os dias também.

Foto | Luana Misturini

VEJAM UM POUCO DO POSITIVISMO da Bella Donna de Outubro

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